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Revista iberoamericana de educación superior

On-line version ISSN 2007-2872

Rev. iberoam. educ. super vol.5 n.13 Ciudad de México May. 2014

 

Territorios

 

Aluno ProUni: impacto na instituçao de educação superior e na sociedade1

 

Alumno ProUni: el impacto en la institución de educación superior y en la sociedad

 

ProUni student: the impact on higher education institutions and society

 

Vera Lucia Felicetti*, Alberto F. Cabrera** y Marilia Costa Morosini***

 

* Português. Doutora em Educação pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil. Professora titular no Programa da pós-graduação em Educação do Centro Universitário La Salle em Brasil. Temas de investigação: práticas metodológicas, formação do professorado, construção do conhecimento, acesso á educação superior, egresso ProUni da universidade. verafelicetti@ig.com.br

** Português. Doutor em Administração de serviços educativos pela Universidade de Wisconsin, Madison, Estados Unidos. Professor titular em o Departamento de Educação Superior da Universidade de Maryland nos EEUU. Temas de investigação: impacto da universidade nos estudantes, acesso á educação superior, experiências na aula, minorias na educação superior, implicação cívica e social dos estudantes universitários e seguimento dos egressos da universidade. cabrera@umd.edu

*** Português. Tem estudos de Pós Doutorado pela Universidade de Texas nos EEUU. Coordenadora do Centro de Estúdios em Educação Superior (CEES) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil. Investigadora do National Council of Reseach (CNPq). marilia.morosini@pucrs.br

 

Recepción: 24/12/12.
Aprobación: 26/11/13.

 

Resumo

O desenvolvimento social e econômico de um país está relacionado à inclusão social, a qual está abarcada nas ações afirmativas atualmente desenvolvidas no Brasil, tais como o Programa Universidade Para Todos (ProUni). O objetivo da investigação apresentada neste artigo é avaliar o impacto gerado pelo novo perfil de alunos ingressantes através do ProUni nas instituições de ensino superior e o impacto gerado pelo egresso ProUni na sociedade. A metodologia usada foi quantitativa e qualitativa. Os resultados delineados com vistas à diversidade estudantil apontam relações significativas e relevantes entre empregabilidade, trabalho, remuneração, satisfação, incentivos, entre outros aspectos que denotam impacto positivo, tanto no meio acadêmico (inclusão de um novo perfil de ingressante), como na sociedade (inclusão social do egresso ProUni).

Palavras chave: ProUni, inclusão social, impacto na educação superior, impacto na sociedade, Brasil.

 

Resumen

El desarrollo social y económico de un país se relaciona con la inclusión social, la cual está contenida en las acciones afirmativas que actualmente se desarrollan en Brasil, tales como el Programa Universidad Para Todos (ProUni). El objetivo de la investigación que se presenta en este artículo es evaluar el impacto generado por el nuevo perfil de alumnos que ingresan a través del ProUni en las instituciones de educación superior y el impacto generado por los egresados ProUni en la sociedad. La metodología utilizada fue cuantitativa y cualitativa. Los resultados delineados con base en la diversidad estudiantil manifiestan relaciones significativas y relevantes entre empleabilidad, trabajo, remuneración, satisfacción, incentivos, entre otros aspectos que muestran un impacto positivo, tanto en el medio académico (inclusión de un nuevo perfil de ingreso), como en la sociedad (inclusión social del egresado ProUni).

Palabras clave: ProUni, inclusión social, impacto en la educación superior, impacto en la sociedad, Brasil.

 

Abstract

The social and economic development of a country is related to social inclusion, which is incorporated in the affirmatives actions that are currently being applied in Brazil, such as the University Program for Everyone (ProUni). The purpose of the research herein presented is to assess, on the one hand, the impact that the new profile of students who enroll through ProUni has on higher education institutions, and on the other, the impact of ProUni graduates on society. We used quantitative and qualitative methodology. The results outlined according to student diversity show significant and relevant associations among employability, work, remuneration, satisfaction, incentives, and other aspects that also show a positive impact, both in the academic setting (inclusion of a new profile) and on society (social inclusion of ProUni graduates).

Key words: ProUni, social inclusion, impact on higher education, impact on society, Brazil.

 

Introdução

Uma efetiva inclusão social está relacionada ao desenvolvimento socioeconômico e humano de uma sociedade; a qual tem por objetivo a igualdade de direitos e oportunidades a todas as pessoas, independente da condição social, política, religiosa, filosófica, mental, física, étnica ou de gênero (Gugel, 2004).

O direito a um trabalho digno e à cidadania é de todos; entretanto, a falta de qualificação e formação profissional de uma pessoa não permite que o mercado de trabalho a acolha, ou seja, o grau educacional do cidadão define o trabalho que ele pode exercer na sociedade. Portanto, conquistar uma formação educacional não é fácil, em especial, no que compete a uma formação em nível superior principalmente nas classes menos favorecidas da população.

A criação de ações de governo, tais como o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), Universidade Aberta do Brasil (UAB), Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Programa Universidade para Todos (ProUni) proporcionam a grupos minoritários2 o acesso a uma educação de nível superior, ou seja, as ações governamentais desenvolvidas nas e com as instituições de educação superior reforçam a seguinte definição de inclusão: "Inclusão significa convidar aqueles que (de alguma forma) têm esperado para entrar e pedir-lhes para ajudar a desenhar o nosso sistema e que encorajem todas as pessoas a participar da completude de suas capacidades –como companheiros e como membros" (Forest e Pearpoint, 1997: 137).

A inclusão social voltada para a educação corresponde a um conjunto de ações que combatem a exclusão dos benefícios da educação na vida em sociedade Esta muitas vezes estabelece padrões igualitários, contradizendo o perfil populacional, o qual é delineado por diferenças. As diferenças no contexto educacional representam grandes oportunidades de aprendizado, oferecem um recurso grátis, abundante e renovável (Barth, 1990). Sendo assim, o aumento de pessoas de diferentes condições socioeconômicas e origens nas instituições de educação superior (IES), as tornam mais plurais e diferenciadas.

As IES, ao abrirem as portas para alunos oriundos de grupos minoritários, estão trabalhando em sua gestão com ações que desencadeiam mudanças e/ou benefícios sobre a sociedade, isto é, elas estão sendo responsáveis pelo impacto social, uma vez que estão cumprindo com a responsabilidade social que lhes compete (SINAES, 2009).

Neste sentido, o objetivo da investigação apresentada neste artigo foi avaliar o impacto gerado pelo novo perfil de estudantes ingressantes nas IES através do ProUni e, também, o impacto gerado pelo novo perfil de graduados na sociedade.

Na sequência apresenta-se um breve olhar na teoria acerca do impacto, da responsabilidade social e inclusão e dos programas de governo, bem como o método utilizado, a análise dos dados e, por fim, as considerações finais.

 

Impacto: responsabilidade social e inclisão

O impacto social segundo Zaffaroni (2007) acontece quando a IES abre suas portas e recebe estudantes dos setores mais desfavorecidos da população e assume a responsabilidade por seus alunos. Investe na permanência deles na instituição, no intuito de que conquistem bons resultados; quando os programas da instituição são desenvolvidos de modo a oportunizar a todos os alunos o mesmo nível de competências. Também quando há estudos voltados ao abandono e a qualificações pertinentes; quando há incentivos estudantis e projetos sociais que corroboram para que os objetivos educacionais sejam atingidos e quando há parcerias com agentes sociais no desenvolvimento de projetos.

O impacto pode ser mostrado através de pesquisas ou relatórios que necessitam ser apresentados de forma concisa e resumidos, de modo a evidenciar as diferenças que o programa ou projeto está fazendo para o bem público. Existe a necessidade de destacar os retornos para a sociedade, apontando questões chaves como: o que se está fazendo? Quem está fazendo e por que está realizando? Em suma, para afirmar que está ocorrendo um impacto, necessita-se mostrar as mudanças que estão acontecendo diante de um investimento sobre uma determinada questão.

Neste sentido, pensar ou falar em impacto na IES ou em impacto na sociedade é perceber o sistema de educação superior responsável pelo desenvolvimento econômico, uma vez que o capital humano oriundo desse nível de ensino representa a força de crescimento econômico de um país (Becker, 1975; Brennam et al., 2004).

A colocação dos egressos do ensino superior no mercado de trabalho é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, pois os valores, visões e conhecimentos adquiridos durante a graduação possibilitam, a partir das interações no trabalho, impactos na sociedade. Isso ocorre porque a colocação dos graduados no mundo do trabalho é fundamental para o impacto do ensino superior na sociedade (Brennam et al., 2004).

Estudos de Teichler (2007) apontam que os graduados do ensino superior não só esperam conseguir emprego, mas também boa remuneração salarial. Assim, o estudante, ao cuidar da sua formação, está adicionando atributos ao seu perfil profissionais o que facilitará a sua inserção no mercado de trabalho resultando na satisfação com a profissão.

Por satisfação entende-se o prazer que resulta da realização do que se desejava alcançar; é um contentamento que advém de uma ação, envolvendo os resultados atingidos nesta. Como o trabalho é uma ação, a relação entre trabalho e satisfação é estreita. Sant'Anna (2002: 98) argumenta que as consequências da satisfação no trabalho têm sido cada vez mais relevantes, "seja para as organizações, em termos de suas potenciais implicações sobre a eficiência, produtividade, qualidade das relações de trabalho, níveis de absenteísmo/turnover e comprometimento organizacional; seja em termos de seus possíveis impactos sobre a saúde e bem-estar dos trabalhadores".

Para De Vries et al. (2008: 72), "Estar satisfeito com o trabalho pode ter várias razões. Estas variam desde aspectos monetários até aspectos como características pessoais, as peculiaridades do emprego, do setor econômico, o tipo de programa e o nível de congruência entre a formação e o trabalho". Na mesma direção, Vila, Garcia-Aracil e Mora (2007) observam em seus estudos abordando auto-avaliações acerca da satisfação no trabalho, as pessoas valorizam tanto os retornos monetários como os não monetários relacionados ao trabalho acordados com as preferências pessoais. Isso evidencia um conjunto de intervenientes relacionados com a satisfação, entre eles as necessidades dignas de sobrevivência, bem como a auto-realização.

Estar empregado pode ser uma forma de avaliar o impacto causado no mercado de trabalho (sociedade) pelos egressos ProUni. Isto é relevante já que este novo perfil corresponde a uma parcela da população que, sem o apoio do ProUni, não teria condições de uma formação profissional formal, ou seja, de uma melhor preparação e qualificação para as exigências do mercado de trabalho, deixando o contingente de trabalhadores informais que frequentam os subempregos em nossa sociedade.

A satisfação com a formação e/ou com o trabalho evidencia uma forma de avaliar o impacto no mercado de trabalho (sociedade) pelo novo perfil ingressante neste mercado, pois, de acordo com Vila, Garcia-Aracil e Mora (2007), a satisfação é um excelente indicador de êxito, uma vez que reflete tanto recompensas monetárias quanto não monetárias.

Nesta direção, este artigo apresenta estudos de campo que evidenciam impactos relevantes no que tange a responsabilidade social da universidade, considerando especialmente, a contribuição da inclusão, tanto no meio acadêmico quanto na sociedade, de um novo perfil de ingressantes e de egressos: o perfil de estudantes e graduados via o ProUni.

O ProUni é um programa de governo destinado à concessão de bolsas de estudo integrais e bolsas de estudo parciais de 50% ou de 25% para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de ensino superior, com ou sem fins lucrativos. As bolsas integrais são concedidas para brasileiros com renda familiar per capita mensal de até um salário-mínimo e meio e para as parciais, a renda familiar mensal per capita não deve exceder o valor de até três salários-mínimos. Tem direito á bolsa o aluno que cursou integralmente o ensino médio em escola pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral; que é portador de deficiência, nos termos da lei; que é professor da rede pública de ensino, especificamente dada para os cursos de Pedagogia, licenciaturas e normal superior, destinados à formação do magistério da educação básica, independentemente da renda referida acima (Ministerio da Educaçao (MEC),2005).

Além do ProUni, outros programas de governo proporcionam o acesso ao ensino superior tais como: 1) Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que objetiva "dotar as universidades federais das condições necessárias para ampliação do acesso e permanência na educação superior" (MEC, 2007: 4); 2) Universidade Aberta do Brasil que correspondente a uma rede nacional de educação superior à distância, com a participação do ensino superior público em parceria com estados e municípios, cujo objetivo é oferecer uma formação acadêmica para professores que já trabalham na educação básica e não são graduados (MEC, 2007); 3) Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) destinado a financiar a graduação na educação superior para estudantes matriculados em instituições não gratuitas. O FIES também proporciona ao aluno com bolsa parcial do ProUni o financiamento da parte faltante em sua mensalidade (MEC, 2011); 4) Centros Federais de Educação Tecnológica reformulados, os quais têm por base a conjugação de conhecimentos técnicos e tecnológicos relacionados às práticas pedagógicas (MEC, 2008); 5) Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que corresponde a um exame de nível nacional aplicado pelo Ministério da Educação, através do qual o candidato concorre a uma vaga nas instituições de ensino superior federais, de acordo com a classificação no Sistema de Seleção Unificada (SISU) e, também, a nota do ENEM permite concorrer a uma vaga em instituições de educação superior privadas através do Programa Universidade para Todos (ProUni).

 

Método

A metodologia usada nesta pesquisa teve abordagem quantitativa e qualitativa. Quantitativa porque analisou frequências e relações acerca dos dados coletatos (Booth et al., 2000). Qualitativa porque propiciou uma construção baseada nas interfaces que emergiram da análise dos textos descritos pelos respondentes e aprofundou a compreensão dos fenômenos investigados (Miles e Huberman, 1994).

A pesquisa foi realizada com 198 graduados de uma IES comunitária do Estado do Rio Grande do Sul, ingressantes pelo Programa Universidade para Todos em 2005. O total de ingressantes em 2005 pelo programa na IES foi de 492. A análise das informações acerca dos 492 ingressantes foi realizada em julho de 2010. Nesta data, dos 492 ingressantes em 2005, 198 (40.2%) estavam formados; 186 (37.8%) continuavam seus estudos, 79 (16.1%) com previsão de formatura para dezembro de 2010; 93 (18.9%) haviam perdido e/ou desistido da bolsa e 15 (3.0%) foram transferidos de instituição.

Os sujeitos cernes desta pesquisa foramos 198 graduados, os quais foram convidados a responderem o questionário de pesquisa administrado. Obteve-se 134 questionários respondidos, equivalendo a 67.8%. Os parâmetros utilizados para o cálculo amostral proposto foram satisfeitos, pois se baseando em um nível de confiança de 95% e assumindo um erro amostral tolerável de 5%, a amostra desejável deveria ser de 132 respondentes.

O questionário foi elaborado contendo questões demográficas, blocos de questões que correspondiam aos pontos de referência delineados às variáveis e aos indicadores de impacto na sociedade: inclusão e impacto na IES. As questões referentes aos indicadores mencionados eram fechadas. Questões abertas também permearam o instrumento de pesquisa e estavam voltadas às dificuldades encontradas no percurso acadêmico, aos pontos positivos/negativos do ProUni e uma questão livre para comentários.

As varáveis e os indicadores que permeiam este trabalho de pesquisa estão apresentados sob os seguintes vieses: o primeiro remete às variáveis e aos indicadores de impacto na sociedade: inclusão, constantes na figura 1; o segundo corresponde às variáveis e aos indicadores de impacto na IES, conforme a figura 2.

A administração do questionário foi pelo aplicativo Google Docs, o qual teve funcionalidade satisfatória e também teve o benefício do livre acesso. Após editar o questionário, o aplicativo gerou um link que foi enviado por e-mail para os respondentes.

As variáveis e os indicadores de impacto na sociedade: inclusão e indicadores de impacto na instituição de ensino superior, desempenho acadêmico e a média acadêmica foram submetidos a uma análise de correlação.

As notas do desempenho acadêmico e da média acadêmica são apresentadas nos históricos de cada graduado, o que permitiu realizar a média geral do desempenho acadêmico e da média acadêmica. Também foram realizadas frequências descritivas sobre cor ou raça,3 faixa etária e área do conhecimento.

Foi adotado o critério de significância estatística em que testes com significância menor que 0.05 (p<0.05) foram considerados estatisticamente significativos (Bós, 2004).

Todas as análises estatísticas foram realizadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), 16.0 2007, conforme orientações de Castañeda et al. (2010).

 

Analise dos dados

Os 134 respondentes ao instrumento de pesquisa corresponderam a 23.9% pessoas do sexo masculino e 76.1% do sexo feminino. Segundo estudos apresentados no Resumo Técnico do Censo da Educação Superior de 2009,4 a educação superior brasileira é predominantemente formada por pessoas do sexo feminino (MEC/INEP/DEED, 2010).

Quanto à idade dos respondentes, no ano do ingresso na universidade em 2005, esta correspondia a 71.6% com idade entre 17 a 20 anos; 20.9% com idade entre 21 a 30 anos; 3.7% com idade entre 31 a 40 anos; 3.0% entre 41 a 50 e 0.8% com idade acima de 50 anos. Uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE) (MEC, 2001) e do PNE decênio 2011-2020 (Brasil, 2011) é elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, o percentual de 71.6% graduados com ingresso na faixa de 17 a 20 anos vai ao encontro do pretendido em tal meta.

A cor ou raça indicada pelos graduados respondentes foi a seguinte: 88.8% branca; 7.5% parda; 2.2% preta; 0.8% amarela e 0.8% indígena. Os dados, acerca da cor ou raça da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2011) mostram que 48.2% da população brasileira é formada por brancos, a parda corresponde a 44.2%, a preta a 6.9% e 0.7% corresponde a amarelos ou indígenas. Assim, os dados apresentados sobre os respondentes ao questionário vão ao encontro dos apresentados pelo IBGE em nível nacional e também, para os dados do Rio Grande do Sul, que têm os seguintes percentuais: 81.4% branca, 13.3% parda, 5.0% preta e 0.3% amarela ou indígena.

Com relação à grande área de formação, o maior percentual está nos cursos da área das Ciências sociais aplicadas com 47.0% tendo Direito e administração os maiores números, depois, os da área das Ciências humanas com 18.7%, Ciências da saúde com 13.4%, Engenharias e tecnologias com 6.7%, Lingüística, letras e artes com 6.0% e a área das Ciências exatas e da terra com 4.5% e a área das Ciências biológicas com o menor percentual, 3.7% egressos. Os dados apresentados pelo MEC/INEP/DEED (2011) sobre os dez cursos de graduação com maior índice de matrícula mostraram que quatro correspondiam à área das Ciências sociais aplicadas, tendo Administração e Direito os maiores percentuais.

Os valores das médias do desempenho e da média acadêmica foram, respectivamente, 6.51 e 2.99, como pode ser observado na tabela 1, na qual consta o desvio padrão, o valor máximo e o mínimo. A nota do desempenho de cada aluno, a qual varia de 0 a 10, é calculada entre todos os alunos de semestres e cursos diferentes e leva em consideração as médias obtidas nas disciplinas e a quantidade de créditos já cursados. Já a média acadêmica varia de 0 a 4 e é resultado da média aritmética das notas obtidas nas disciplinas. Como as duas médias são calculadas de forma diversa não houve a possibilidade de compará-las.

Uma síntese da escolaridade das mães e pais é apresentada na tabela 2.

Destaca-se o percentual de 56.0% dos pais e mães dos egressos respondentes com escolaridade correspondendo ao ensino fundamental incompleto. Observa-se, também, que os pais dos respondentes têm menor escolaridade do que as mães nos três níveis de estudo.

Destaca-se aqui, junto à escolaridade dos pais, a relevância da formação de nível superior conquistada, pois de acordo com os respondentes ter esta formação representa 'ser respeitado perante as classes sociais mais favorecidas; é ter oportunidade de aprender e de ter conhecimento; é o abrir de portas tanto em relação ao conhecimento quanto em relação à cidadania'.5 Essa formação tem influenciado membros da família a retornarem aos estudos, como pode ser percebido na fala de um respondente: 'minha mãe voltou a estudar e concluiu ensino médio, pois deseja cursar enfermagem [...]'. Isso representa a valorização dada aos estudos e o efeito: filhos graduados estimulam os pais a graduarem-se. Além deste efeito, o inverso apontado pelas pesquisas: pais graduados tendem a ter filhos graduados (Ferreira e Veloso, 2003). Isso esteve visível na fala dos respondentes: 'meus filhos, ainda pequenos, já pensam em fazer uma faculdade'. A reciprocidade de influência e/ou estímulo, de fato, parece estar ocorrendo, pois muitos pais retornaram aos estudos e filhos de graduados ProUni almejam um estudo universitário. Pascarella e Terenzini (2005) apontam evidências que sugerem que uma formação de nível superior não somente proporciona ganhos em conhecimento, em pensamento crítico, reflexivo e sofisticado, mas também influencia na natureza da vida dos filhos de graduados.

A pouca escolaridade dos pais acima apresentada, intensifica a satisfação dos mesmos em terem filhos graduados: 'Os meus pais ficaram felizes com a minha formatura. Sou a 1ª pessoa na minha família a se formar!' Segundo estudos de Pascarella e Terenzini (2005), a experiência dentro da faculdade pode ser mais importante para os estudantes de primeira geração familiar neste nível de ensino do que para os alunos cujos pais já têm tal formação.

Ser o primeiro a graduar-se nesse nível de ensino representa, para toda a família, quer direta ou indiretamente uma mudança de perspectivas e posturas diante dos mais variados aspectos, entre eles a visão de mundo que se amplia, que vai além das cercanias. O graduado passa a ser a referência na família. 'De certa forma acabei-me tornando um "modelo" a ser seguido por outros membros da família, pois sou o primeiro formado de minha família!'.

Outra resposta neste sentido: 'Sou o primeiro da família a se formar no curso superior e depois de mim, outros familiares começaram a estudar'.

As respostas referentes à questão que abordava se o egresso trabalhou ou não durante o período da graduação mostram que o total de egressos que não trabalhou enquanto estudante correspondeu a 6.7% pessoas. Portanto, 93.3% egressos trabalharam durante o percurso acadêmico.

Trabalhar e fazer a faculdade foram uma dificuldade apontada pelos respondentes, pois o trabalho lhes tomava muito tempo. 'Eu tinha muitas tarefas, que às vezes acumulavam, pois faltava tempo para realizar tudo que era pedido. Eu colocava as tarefas em dia nos finais de semana [...]'.

O trabalhar durante a vida acadêmica foi condição para a permanência no curso, pois a remuneração obtida do trabalho realizado por eles, não somente foi relevante para custear seus gastos pessoais, materiais, xerox; mas também para ajudar a família. Isso significa que esse perfil estudantil não tem como contar com recursos financeiros oriundos da família, pelo contrário, esta é que depende da renda deles, ainda que sendo ínfima. 'Minha maior dificuldade foi na questão de trabalhar e estudar, pois tive que trabalhar durante a minha graduação para ajudar meus pais e também para o meu sustento próprio. Devido ao trabalho, não tinha muito tempo para estudar e me dedicar mais à faculdade'.

Quanto ao estar trabalhando no momento em que responderam ao questionário, tem-se 123 (91.8%) dos 134 egressos respondentes, como pode ser observado na tabela 3. Os 11 egressos que não estavam trabalhando representaram 8.2% do total de respondentes, sendo 1 homem, que estava fazendo mestrado e 10 mulheres, das quais 3 estavam cursando mestrado, 2 um novo curso superior e 5 não estavam estudando nem trabalhando. Pode-se, dizer que dos 134 egressos apenas 5, ou seja, 3.7% encontravam-se desempregados, pois os 6 que não estavam trabalhando estavam dando continuidade aos seus estudos.

Observa-se, ainda na tabela 3, que 81 dos respondentes atuavam na área de sua formação, o que corresponde a 65.8% dos 123 que estavam trabalhando.

Após graduar-se, o colocar-se no mercado de trabalho representa um desafio, principalmente, associar trabalho com a formação. Os dados apresentados apontam o sucesso dos graduados em conseguirem trabalho relacionado com a formação acadêmica. Associar formação com trabalho constitui-se aspecto essencial ao considerar o sucesso do graduado (De Vries et al., 2008). A associação entre formação e trabalho possibilita, além de perceber o sucesso do egresso do ensino superior, avaliar o sucesso do programa, pois o mercado de trabalho assimilou os egressos da educação superior.

O grande percentual de graduados que estavam trabalhando quando responderam ao questionário vai ao encontro de uma pesquisa realizada pelo Ibope junto a 1.200 recém-formados com bolsas integrais do ProUni. A pesquisa, realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE),6 no período de 13 a 23 de março de 2009, revelou que 80% desses egressos já estavam trabalhando, entretanto, a pesquisa do IBOPE não identificou se esses graduados trabalhavam na área de formação (MEC, 2009). Já os resultados apresentados neste trabalho, apontam se os graduados estavam ou não trabalhando, bem como, se estavam atuando na área de formação o que correspondeu a mais de 65% dos graduados atuando em sua área. A absorção desses profissionais pelo mercado de trabalho, na área de formação, representa a demanda sendo contemplada.

Na tabela 4 observa-se que 47.8% dos 23 respondentes que continuavam no mesmo trabalho quando agraduação e que não tiveram aumento salarial, tinham seu trabalho relacionado com a formação acadêmica. Já aqueles em que o trabalho não era relacionado com a formação acadêmica corresponderam a 52.2% dos 23. Esses percentuais correspondem respectivamente a 8.9% e 9.8% dos 123 respondentes que estavam trabalhando.

Quanto ao aumento de renda após o curso, tem-se, na tabela 5, que 70% dos 100 que tiveram aumento salarial trabalhavam na área de formação e para 30% dos 100 o trabalho não era relacionado com a formação acadêmica. Tais percentuais correspondem respectivamente a 56.9% e 24.4% dos 123 graduados que estavam trabalhando. Houve relação estatística de significância entre o trabalho atual relacionado com a formação acadêmica e o aumento de renda com p=0.043.

Quanto à remuneração salarial dos egressos, uma das respondentes, que está cursando o mestrado e não está trabalhando, apontou sua bolsa de estudos como sua remuneração, assim, no quesito remuneração temse 124 respondentes. A remuneração foi organizada em 4 níveis: 1) até R$1.020.00,7 que teve 46.0% dos respondentes; 2) de R$1.021.00 até R$2.040.00 com 42.7%; 3) de R$ 2.041.00 até R$ 3.061.00 teve 4.0%; o restante 7.3% tinha remuneração superior a R$ 3.061.00.

Ao somar os três últimos níveis (42.7% + 4% + 7.3% = 54.0%) de remuneração salarial percebe-se mais da metade dos respondentes com salário individual acima de R$1.020.00. Pode-se conjecturar aqui que a situação financeira dos graduados quando responderam ao questionário estava melhor do que a situação dos mesmos quando ingressantes na vida acadêmica, uma vez que todos tinham bolsa integral, logo remuneração familiar mensal per capita inferior a R$ 765.00, ou seja, inferior a 1 (um) salário mínimo e 1/2 (meio). Isso também é válido para os 46% com renda mensal de até R$1.020.00, uma vez que a renda indicada pelos respondentes, no questionário, é individual e não familiar per capita.

As questões remuneração e trabalho aparecem na fala dos respondentes associadas à formação conquistada via o programa: 'Agradeço a existência do ProUni, porque foi a maior oportunidade que tive em minha vida. Hoje estou atuando na área, tenho a minha carteira assinada a qual estava em branco havia muitos anos. Realmente este é o meu maior presente'.

As pessoas tendem a estarem satisfeitas se a remuneração do trabalho condiz com o esperado e se é capaz de dar condições dignas de vida. Isso está claro no depoimento do egresso acima.

Com relação a realizar o mesmo curso se pudesse começar novamente e o trabalho atual estar relacionado com a área de formação, tabela 7, a maioria dos respondentes que estavam trabalhando, ou seja, 52.9% fariam o mesmo curso outra vez.

Quanto aos que não estavam trabalhando na área de formação, na tabela 8, tem-se 20.3% que fariam o mesmo curso novamente. Somando esses percentuais tem-se 73.2% dos 123 graduados que fariam o mesmo curso outra vez. Para os que estão trabalhando na área de formação, a proporção dos que fariam o mesmo curso novamente é significativamente maior do que os que não atuam na área de formação com p=0.014. A relação entre o trabalho atual relacionado com a formação acadêmica e o fazer o mesmo curso tem uma probabilidade de 98.6% de ser verdadeira, portanto, estar atuando na área de formação identifica o graduado com a sua profissionalização, faz com que o mesmo se sinta realizado e satisfeito com a formação conquistada. Para De Vries et al. (2008) a reciprocidade entre formação e área de atuação está relacionada com a satisfação do trabalho realizado.

A satisfação com a formação conquistada é evidente nas falas dos respondentes: 'Realizei meu sonho [...]'. Estar formado e ter conseguido realizar um sonho são aspectos que intervêm para com a realização do ser humano. 'O ProUni veio me ajudar a ser mais feliz, pois tenho condições de lutar e conseguir atingir meus objetivos. Um melhor preparo para o mercado de trabalho oportuniza melhores oportunidades, pois num país onde as coisas são tão difíceis, [...] este programa oferece chances de estudar e iniciar uma carreira'.

Com relação à satisfação com o trabalho que estavam realizando, observou-se que a maioria dos respondentes encontrava-se no âmbito da satisfação, ou seja, 73.2%, enquanto que 26.8% consideravam-se insatisfeitos. Os egressos que não se encontravam trabalhando também responderam a esta questão, totalizando 134 e não 123 que estavam trabalhando. Não se observou a razão das pessoas que não estavam trabalhando responderem a esta questão, pois a mesma era clara: Qual sua satisfação com seu trabalho atual? Houve uma relação significativa (p=0.03) entre satisfação e trabalho atual dos egressos respondentes, o que representa a probabilidade de 97% de ser verdadeira a relação entre satisfação e o trabalho atual.

Realizou-se correlações entre satisfação, remuneração salarial atual e fazer o mesmo curso, caso pudessem recomeçar a vida acadêmica. Houve correlação estatisticamente significativa entre satisfação e remuneração salarial com p=0.001, significando que a probabilidade do grau de satisfação e a remuneração salarial não estarem correlacionadas é de apenas 0.1%, ou seja, 99% de chances de ser verdadeira. A correlação entre satisfação e recomeçar o mesmo curso teve p=0.004, ou seja, a probabilidade do grau de satisfação e a probabilidade de fazer o mesmo curso não estarem correlacionados é de 0.4%, isto é, 96% de a probabilidade entre fazer o mesmo curso e a satisfação ser verdadeira. A correlação entre remuneração salarial e recomeçar novamente o mesmo curso obteve um p=0.006, significando que a probabilidade da remuneração salarial e a probabilidade de recomeçar o curso não serem correlacionadas é de 0.6%, ou seja, 99.4% de chances de ser verdadeira. Estas informações podem ser observadas no quadro 1.

Destaca-se aqui que embora a maioria dos respondentes tenha remuneração abaixo de R$2.040.00 houve uma correlação estatisticamente significativa entre satisfação e remuneração salarial. Isso pode ser justificável devido à renda familiar per capita quando do ingresso na faculdade a qual era de até R$765.00, ou seja, houve melhoria salarial após a graduação e, além disso, leva-se em consideração a fase inicial de trabalho após a formação. Na mesma direção, Pascarella e Terenzini (2005), encontraram em seus estudos a relação significativa entre satisfação no trabalho e a graduação relacionada com a questão monetária.

Também foram realizadas correlações entre empregabilidade, satisfação, desempenho acadêmico e média acadêmica, as quais constam do quadro 2. Houve correlação estatisticamente significativa entre empregabilidade e satisfação que teve p=0.001 o que representa a probabilidade de 99% da relação entre empregabilidade e satisfação ser verdadeira. Entre satisfação e média acadêmica também houve correlação estatisticamente significativa com p=0.014, ou seja, a probabilidade da relação entre satisfação e média acadêmica ser verdadeira é de 98.6%. Entre desempenho acadêmico e média acadêmica também houve correlação estatisticamente significativa com p=0.001, o que significa que há a probabilidade de 99% da relação entre desempenho e média acadêmica ser verdadeira.

As correlações estatisticamente significativas denotam a satisfação dos graduados com o emprego conquistado, fruto do esforço empenhado para a formação.

Os respondentes evidenciam a relevância da uma formação acadêmica em suas vidas uma vez que esta corrobora para com a formação de um conjunto mais amplo de qualidades pessoais que tornam as pessoas melhor preparadas para o mercado de trabalho, logo terem melhores empregos e serem bem sucedidas profissionalmente. 'Minhas experiências foram ótimas, sou outra pessoa agora, mais esperta, informada, destemida, comunicativa. Outro egresso diz que profissionalmente, meu trabalho melhorou bastante depois do curso'.

Os graduados apontam o sucesso alcançado no mercado de trabalho decorrente da formação que conquistaram. 'Graças a essa bolsa que ganhei, consegui estudar e conquistar um ótimo emprego, com o qual estou conseguindo ajudar meus pais e minha irmã a ter uma vida mais confortável'.

Está muito claro nos depoimentos dos egressos o quanto o ProUni contribuiu a eles com a formação acadêmica e, por extensão, as suas vidas. A gratidão a este programa é explícita: 'Só queria agradecer a oportunidade que me foi dada [...] Sem esta, com certeza não seria a pessoa que sou'. Além de agradecer a oportunidade de ter sido bolsista, este graduado destaca a sua formação não somente em relação à graduação, mas também em seu desenvolvimento enquanto pessoa.

Ao encontro dos resultados aqui apresentados, análises realizadas por Felicetti, Rossoni e Gomes (2012) em 21 teses de doutorado defendidas entre 2007 e 2011 tendo o ProUni como temática, evidenciaram o programa como única possibilidade, para alunos de baixo poder aquisitivo, de acesso ao ensino superior. Indicaram o programa como um avanço na democratização desse nível de ensino, significando profissão, mudança social, conquista, crescimento e desenvolvimento integral da pessoa. No entanto, se em muitos trabalhos aparecem inúmeros pontos positivos ao programa, em outros são denotados aspectos negativos, entre eles a questão da permanência, pois muitos estudantes, mesmo tendo a bolsa, não concluem os estudos. De acordo com alguns trabalhos, muitos alunos são desprovidos de recursos econômicos, culturais e em muitos casos a deficitária educação básica recebida intervém no desempenho acadêmico. Tais aspectos, segundo os estudos analisados exigem enfoque no aspecto permanência, não somente no quesito acesso. Outros estudos apontam o ProUni como sendo uma forma de desvio de verba pública para o setor privado.

O Programa Universidade para Todos tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições de ensino superior privadas e em contrapartida, há a isenção de tributos àquelas instituições que aderem ao programa (MEC, 2005).

 

Considerações finais

Para que a inclusão social ocorra é mister que a sociedade perceba a educação como requisito fundamental e decisivo no que compete igualar oportunidades e promover a meritocracia, pois desta forma as pessoas têm a opção e a condição de desenvolver suas capacidades usando-as de forma produtiva e no exercício da cidadania.

Neste sentido, o Programa Universidade para Todos vem desempenhando um papel fundamental na sociedade, pois faz valer o direito à educação superior para pessoas oriundas de grupos minoritários. Isso proporciona, então, a inclusão de um novo perfil acadêmico nas instituições de ensino superior e um novo perfil de graduados no mercado de trabalho; em extensão, a ascensão socioeconômica, cultural e consequentemente a melhora de suas vidas, de suas famílias, o entorno no qual estão inseridos, a sociedade em geral, logo, a realidade brasileira.

Ao observar as correlações estatisticamente significativas apresentadas entre empregabilidade e satisfação com seu trabalho, entre satisfação e remuneração, entre satisfação e fazer o mesmo curso, entre satisfação e média acadêmica, bem como o percentual de egressos empregados, o qual corresponde a mais de 90% dos respondentes, pode-se argüir que estão ocorrendo diferenças e mudanças na sociedade. As análises realizadas neste trabalho acerca dos egressos ProUni permitiram quantificar e/ou perceber as diferenças potenciais que o programa está fazendo na vida real das pessoas; portanto, impactos na sociedade estão ocorrendo.

Os depoimentos dissertativos dos participantes da pesquisa também evidenciaram mudanças ocorrendo, tanto no contexto familiar como social, pois os respondentes ao afirmarem como ponto positivo do ProUni a formação em nível superior, a qual lhes permitiu melhor colocação no mercado de trabalho, estão evidenciando a inclusão na sociedade, a satisfação, a qualidade de vida, a influência e incentivo que esse novo perfil de graduados está desencadeando no meio familiar e no entorno de seu dia a dia. Assim, os respondentes estão relatando os retornos e benefícios do programa não somente em âmbito pessoal, mas também para a sociedade.

A relação entre educação e inclusão social está ocorrendo, pois o ProUni vem promovendo maior equidade no que concerne às oportunidades e à qualidade da educação, o que favorece a igualdade na competitividade em relação ao acesso ao trabalho, à participação cívica e cultural, assegurando, assim, uma ordem mais justa e meritocrática, dando aos sujeitos oriundos de classes menos favorecidas um sentido maior de pertencimento na sociedade. Isso representa um vínculo maior entre os mundos do trabalho e da educação: elo essencial na integração social.

O acesso à educação superior, de pessoas de diferentes origens e classes socioeconômicas, em especial as com menor poder aquisitivo, contempla a responsabilidade social das IES. A universidade ao abrir as portas ao Programa Universidade para Todos oportunizou o ingresso de pessoas oriundas de classes menos favorecidas, bem como de diferentes origens e culturas. Além do acesso, a universidade apresenta resultados, ou seja, 198 egressos até o início do segundo semestre de 2010, bem como os que ainda estavam em curso (186) até esta mesma data, mostrando, assim, a responsabilidade social desenvolvida pela instituição de ensino superior em foco nesta pesquisa.

Isso representa saber que uma igualdade verdadeira só é possível com a igualdade de oportunidades de acesso garantido para todos, sem discriminação social, econômica, racial, cultural entre outras. Significa também dar oportunidades sem perder o foco de que as mesmas são dadas a quem tem potencial de responder positivamente a elas, quer dizer, é acreditar na capacidade do ingressante ProUni, é compreender que o investir no "diferente" não é inócuo enquanto se acreditar e perceber que eles têm potencial de fazerem e darem o melhor de si. Portanto, reconhecer a igualdade de acesso não é o aspecto central, mas sim o reconhecer a igualdade de aprender como ponto de partida e reconhecer como processo e como ponto de chegada as diferenças no aprendizado, isto é, reconhecer que as pessoas são diferentes e aprendem em tempo e intensidades diferentes. Assim, acompanhar o tempo médio de realização do curso, a média e o desempenho acadêmico, também comprovam a responsabilidade social da instituição, pois esta percebe as diferenças no tempo de aprendizado bem como nos resultados apresentados por cada aluno.

O Programa Universidade para Todos oportuniza a permanência do estudante na IES, na medida em que lhe proporciona a bolsa, ou seja, o manter-se na universidade não depende mais da mensalidade. Obviamente necessita de outros quesitos como alimentação, transporte, etc. Porém não pagar a mensalidade significa dizer que este programa colabora para com a diminuição da evasão na universidade. O oferecimento de oportunidades de acesso a serviços e bens, dentro de um sistema que beneficie a todos, não somente aos mais favorecidos pelas suas características ou condições na sociedade, está representando a inclusão social sob o viés educacional do acesso e da permanência, a qual é fortalecida e garantida pela concessão da bolsa ProUni. Portanto, a inclusão social está apresentando mudanças, ou seja, impactos no interior das IES.

Pode-se, então, ver o programa como um agente que contribui para transformação da educação superior no Brasil, uma vez que oportuniza o acesso de grupos minoritários a esse nível de ensino, bem como contempla as exigências laborais do mercado de trabalho, pois a maioria dos graduados encontra-se atuando na área de formação. Isso significa dizer que houve equilíbrio entre a demanda e a oferta laboral. Entretanto, o sucesso do programa depende de todos os envolvidos nele, em especial, o comportamento do protagonista, ou seja, seu comprometimento, pois afinal, só aprende quem quer aprender, só aproveita as oportunidades quem quer deixar de ser o "diferente" para fazer a diferença na universidade e na sociedade.

 

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Notas

1 Agência financiadora CAPES. Este artigo é um recorte da Tese de doutorado: Comprometimento do estudante: um elo entre aprendizagem e inclusão social na qualidade da educação superior. Tese premiada com a Menção Honrosa no Prêmio Cape de Tese 2012.

2 Alunos identificados como em "desvantagens iniciais", isto é, diferenças apresentadas em relação a questões como: situação socioeconômica, gênero, raça, cultura, deficiências, local de residência e idade.

3 Cor ou raça é a nomenclatura usada pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estadística.

4 Os resumos técnicos dos anos anteriores não trazem o perfil dos alunos.

5 As falas dos respondentes serão apresentadas entre aspas ('_').

6 O IBOPE é uma multinacional brasileira de pesquisas de opinião e estudos de mercado, com enfoque em pesquisas eleitorais e pesquisas de audiência televisiva.

7 Foi tomado aqui como base o salário mínimo de R$510.00.

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