Introdução
Os estudos sobre o saber registrado e socializados em rodas de conversas, contações de histórias, filmes, livros, documentos de arquivos, periódicos científicos, fotografias (entre tantos outros), desde as concepções de suas naturezas e interdisciplinaridades até as teorias e metodologias em como torná-los acessíveis, sustentam diferentes perspectivas no âmbito da Organização do Conhecimento (OC), com distintos níveis de interesses, in-tenções e ideologias.
Essas perspectivas se concretizam nas diversidades de 1) temáticas (sistemas e processos, com assuntos variáveis dos fenômenos que giram em torno do que é o conhecimento, a informação e seus desdobramentos em teorias e práticas profissionais); e 2) enfoques (sociais, políticos, críticos, econômicos, culturais, entre outros) nas pesquisas desenvolvidas.
Uma sociedade científica que contribui para fomentar os estudos dessas perspectivas é a ISKO Brasil (dentre os demais objetivos institucionais da sociedade) que se configura como um espaço teórico de diálogos e discussões em torno das questões da OC. Assim, ressaltamos que ter um espaço investigativo científico como este capítulo nacional da ISKO Brasil é fundamental para o desenvolvimento da ciência no Brasil.
Nesse sentido, Dodebei e Guimarães (2013: 15) situam que a área de Organização e Representação do Conhecimento no Brasil "enquanto um campo de estudos já consolidado nos domínios da Ciência da Informação e, em outros fronteiriços, notamos uma forte aproximação com seus fundamentos teórico-conceituais e metodológicos".
Na ISKO do Brasil sua estrutura de trabalhos divide-se em três categorias, denominadas "dimensões", sendo estas:
Ao analisarmos essas diferentes dimensões, é notável uma pluralidade de assuntos, o que corrobora para as discussões em torno da OC em que as pesquisas podem ser contínuas, e também tecer caminhos de reflexões, críticas, análises e construções que ampliem as reflexões sobre as questões do conhecimento, da informação e suas interfaces com os diferentes domínios.
Vale destacar que a palavra olhar no título, como metáfora ilustra aquilo que vemos, sempre mediada por lentes específicas, nesse caso, estas, são a análise de domínio.
O que iremos "olhar", partiu da pesquisa de Santos, Hernandez e Vital (2019) (que mapearam as temáticas estudadas e a comunidade discursiva por meio da produção científica da dimensão política e social do capítulo da ISKO-Brasil). Nesse sentido, essa pesquisa parte da seguinte questão: como se caracteriza a dimensão epistemológica da ISKO-Brasil?
Nosso objetivo é apresentar uma análise e mapeamento no que tange a sua produção científica.
Uma teia denominada "epistemologia" na Organização do Conhecimento
Para nos aproximarmos do tema de epistemologia, selecionamos uma poesia de Orides Fontela (1996), poeta brasileira contemporânea1, que recebe o título de Teia:
A teia, não
mágica
mas arma, armadilha
a teia, não
morta
mas sensitiva, vivente
a teia, não
arte
mas trabalho, tensa
a teia, não
virgem
mas intensamente
prenhe:
no centro
a aranha espera.
Em síntese, e sem reduzir as possibilidades de análises desse poema, nos interessa o que está estruturando adjetivos e os objetivos sobre a teia. O que é a teia? Quem constrói a teia? Para que e a quem a teia serve? Como ela é construída? Essas perguntas se feitas sobre a epistemologia, nos parece primordial, para situarmos a amplitude da temática e seu grau de complexidade.
Nesse sentido, iremos expor brevemente sobre seu conceito em dois diferentes dicionários de filosofia, e posteriormente, situá-la no âmbito específico da OC.
Epistemologia2 no âmbito da filosofia é designado como teoria do conhecimento, "em inglês o termo Epistemology foi introduzido por J.F. Ferrier (Institutes of Metaphysics, 1854) [...]" (Abbagnano, 1998: 183).
Interessa-nos também a definição de Japiassú e Marcondes do Dicionário Básico de Filosofia (2006: 67) que atribui epistemologia (do gr. episteme: ciência, e logos: teoria) como "Disciplina que toma as ciências como objeto de investigação [...]". Para os autores enquanto disciplina ela tenta reagrupar 3 aspectos: a) a crítica do conhecimento científico; b) a filosofia das ciências; c) a história das ciências.
Em outro momento adiante, os autores especificam que a epistemologia é uma disciplina proteiforme:
No pensamento anglo-saxão, epistemologia é sinônimo de teoria do conhecimento (ou gnoseologia), sendo mais conhecida pelo nome de "philosophy of science". E neste sentido que se fala de epistemologia a propósito dos trabalhos de Piaget versando sobre os processos de aquisição dos conhecimentos na criança. O fato é que um tratado de epistemologia pode receber títulos tão diversos como: "A lógica da pesquisa científica", "Os fundamentos da física", "Ciência e sociedade", "Teoria do conhecimento científico", "Metodologia científica", "Ciência da ciência", "Sociologia das ciências" etc. Por essa simples enumeração, podemos ver que a epistemologia é uma disciplina proteiforme que, segundo as necessidades, se faz "lógica", "filosofia do conhecimento", "sociologia", "psicologia", "história" etc. (Japiassú e Marcondes, 2006: 67).
Podemos observar com base nessa diversidade de títulos o quanto tratar desse tema é complexo, haja visto que as variantes de possibilidade que podem ter sua concepção e denominação, razão pela qual não aprofundaremos detalhadamente para não sair do escopo do trabalho. O que nos interessa é situar que a OC ao ser um campo científico sistematizado, também se insere nessa discussão.
Por fim, para passarmos para a OC, identificaremos antes, a concepção de Japiassú e Marcondes (2006: 67-68), em relação ao modo de como eles identificam o problema central da epistemologia:
Seu problema central, e que define seu estatuto geral, consiste em estabelecer se o conhecimento poderá ser reduzido a um puro registro, pelo sujeito, dos dados já anteriormente organizados independentemente dele no mundo exterior, ou se o sujeito poderá intervir ativamente no conhecimento dos objetos. Em outras palavras, ela se interessa pelo problema do crescimento dos conhecimentos científicos. Por isso, podemos defini-la como a disciplina que toma por objeto não mais a ciência verdadeira de que deveríamos estabelecer as condições de possibilidade ou os títulos de legitimidade, mas as ciências em via de se fazerem, em seu processo de gênese, de formação e de estruturação progressiva.
Ao tomar como objeto a ciência em seu processo de se fazer, entendemos que a epistemologia em analogia a poesia de Orides é de tal modo como uma teia, não apenas pelo devir de se ocupar de algo em construção, mas também por vias dos adjetivos que as qualificam, considerando que teia = epistemologia, e aranha = disciplina do conhecimento científico. Partindo dessa concepção que teia e aranha são diretamente relacionadas entre si, em uma relação de causa e efeito toda aranha faz suas teias, assim, todas as disciplinas científicas têm suas posições epistemológicas, ditas de formas explícitas ou não.
Continuando com esse argumento da teia como epistemologia, vale mais um elemento a ser considerado, a teia é uma construção solitária. A aranha tem um propósito: manter-se viva por meio de alimentos. Então ela escolhe um lugar ideal para construir uma armadilha. Tece fio a fio. E no final o que vemos? Uma construção geométrica perfeita, resistente. Fruto de um ser que teve muita destreza para construir e, muita calma para atingir o seu objetivo: devorar insetos ou animais que porventura fiquem presos em qual ponta da teia. Sim! A aranha construiu um método (aproveitando das sensibilidades que há nas suas patas) para sentir qualquer movimento em qualquer ponto da teia. A teia só foi possível existir, pois a aranha tem "compreensão" do mundo à sua volta.
As disciplinas do conhecimento científico assim como as "aranhas" constroem métodos, formas de compreender o mundo, e com isso tecem epistemologias, caminhos para compreender o como sabemos o que sabemos.
Situado dessa forma, não há magias, nem estagnação, o que há são trabalhos, gestações, todas construções dotadas de interesses e voltadas para usos que podem ser direcionados para a própria ciência, para a sociedade e/ou mercado, para uma cultura de violência ou de paz, entre tanto outros, éticos ou não. E no centro, quem espera são pessoas que criam, escolhem e/ou usam determinada sistematização de saberes para descrever e orientar formas de pensamentos, condutas de ações para vida, tipos de crenças, enfim, todos elementos de um processo feito com e para demonstrar quais são e como se obtém conhecimento, e que conhecimento é válido para quê, para quem e suas causas.
Após termos explanado essa aproximação da epistemologia enquanto uma teia, concordamos com Japiassú e Marcondes (2006: 67-68. Grifo nosso) a respeito do objeto da epistemologia enquanto uma ciência que se constrói, "em via de se fazerem, em seu processo de gênese, de formação e de estruturação progressiva" como argumentamos acima.
Como já dissemos, o fato de explanar que é uma construção significa dizer também que além de intenções, tem métodos, e nesse ponto, no Dicionário de Filosofia de Abbagnano (1998: 140. Grifo nosso) ao final da descrição do conceito de Teoria da Ciência, consta que "para a disciplina que considera as formas ou os procedimentos do conhecimento científico, têm sido usadas mais frequentemente às palavras epistemologia e metodologia".
Visto essas concepções, passamos para a OC, e começamos por esclarecer que essa área como em todo campo de conhecimento científico tem na epistemologia uma temática importante, visto que é a base de toda pesquisa científica, além de ser uma das facetas da Análise de Domínio proposta por Hjørland (2002).
Além disso, na ISKO-Brasil há um eixo de estudos denominado "Dimensão Epistemológica", essa dimensão compreende o foco desse estudo. Em razão disso, consideramos que o primeiro aspecto para ser analisado, é explicarmos o que é uma dimensão.
Em um trabalho publicado na ISKO Brasil, Smiraglia (2013: 18) parte dessa questão e descreve a epistemologia enquanto uma dimensão do domínio da OC:
A epistemologia é uma ferramenta essencial da organização do conhecimento e uma dimensão é uma expressão da extensão de um espaço. Portanto, na organização do conhecimento, a epistemologia representa uma dimensão, porque é como podemos medir ou expressar o espaço em nosso domínio, que vai do empírico ao racional, as duas principais posições epistemológicas.
O autor supracitado faz tal colocação, por entender como dimensão o enfoque conceitual oriundo da matemática e da física, para isso, ele usa como exemplo a figura de uma esfera sendo dividida por três dimensões (altura, largura e profundidade) assim, "cada dimensão viaja ao longo de uma daquelas setas que dividem o espaço" (Smiraglia, 2013: 18). Essa metáfora compara a OC como uma esfera, ou seja, um domínio específico em que há diferentes dimensões que divide o espaço intelectual da OC.
Essa dimensão epistemológica que divide o espaço, e fornece trajetórias para transitar, é vista também como uma possibilidade de estudos no domínio, como é o caso da tese intitulada "Epistemologia da Organização Do Conhecimento: Um estudo Metateórico" de Araújo (2019: 133) que busca responder sobre a concepção de epistemologia no domínio da OC, e identifica, dentre outros aspectos da pesquisa, que: "[...] a concepção de epistemologia no domínio da OC é o estudo crítico dos princípios, hipóteses e produção do conhecimento no domínio". Observamos que essa concepção está alinhada com a primeira característica que Japiassú e Marcondes (2006) citam.
No caso específico da OC a epistemologia está relacionada com a "produção do conhecimento científico pelo domínio da OC, bem como com a aplicação desse conhecimento para o desenvolvimento dos SOC e para dar suporte aos processos de OC" (Araújo, 2019: 133).
Epistemologia é essencial para desenhar e implementar os SOC, guia o processo de OC e destaca o seu nível conceitual, também torna claras as posições epistêmicas que influenciam a OC e ajuda a aplicar a análise de domínio já que provê ideias relacionadas às suposições das teorias e é uma das onze abordagens da análise de domínio. (Araújo, 2019: 132)
Nesse sentido, na pesquisa de Araújo (2019) são identificadas outras posições epistêmicas a partir do conceito de epistemologia:
As posições epistêmicas (atributos) que formam esta família de atributos são: empirismo, racionalismo, historicismo, pragmatismo, realismo construtivista, construtivismo social, holismo, pragmatismo realista, reducionismo, idealismo, relativismo, positivismo lógico, construtivismo, realismo hipotético, realismo, positivismo, pós-modernismo e teorias críticas (pósestruturalismo, desconstrução, epistemologia feminista, pós-colonialismo, teoria crítica, racial e teoria queer). (Araújo, 2019: 132-133)
Hjørland (2002) estuda o campo epistemológico na OC e frequentemente situa como epistemologia na OC quatro correntes: empirismo, racionalismo, historicismo e pragmatismo. Ele utiliza como exemplo para cada uma dessas posições o que pode ser os critérios de relevância, simplificados nessas quatro correntes epistemológicas, com duas categorias: o que é relevante e não relevante.
Quanto a essas categorias que estão representada em uma figura, vale ressaltar que em outro trabalho, o autor defende que tal figura "[...] é obviamente uma simplificação do complexo campo da epistemologia. Fornece, no entanto, uma base para compreender algumas das posições epistemológicas primárias e a sua inegável influência sobre o trabalho da biblioteca e da ciência da informação" (Hjørland e Hartel, 2003: 239).
A respeito do pragmatismo, na tese de Araújo (2019: 133), foi identificado que essa corrente é a posição epistêmica mais influente no domínio da OC; e que o pragmatismo e historicismo são posições epistêmicas relacionadas, além de uma forte presença das teorias críticas.
Metodologia
A metodologia utilizada foi a Análise de Domínio (AD) de Hjørland (2002) e a Análise de Contéudo de Bardin (1977), com a Pré-Análise e Exploração do Material nos anais da ISKO "Estudos Avançados em Organização do Conhecimento" volumes 1-5, disponíveis no website da ISKO-Brasil:
2012 (Brasília). Desafios e perspectivas científicas para a organização e representação do conhecimento na atualidade
2013 (Rio de Janeiro). Complexidade e organização do conhecimento, desafios do nosso século
2015 (Marília). Organização do Conhecimento e Diversidade Cultural
2017 (Recife). Memória, tecnologia e cultura na organização do conhecimento
2019 (Belém). Organização do conhecimento responsável: promovendo sociedades democráticas e inclusivas
A trajetória da pesquisa foi realizada de acordo com as etapas em:
1 Estudos de Estrutura na Comunicação Científica, para identificar quantidade de trabalhos por ano; autores e autoras; e instituições
2 Estudos Epistemológicos e Críticos, para identificar as temáticas dos trabalhos.
2.1 Categorização das temáticas (na fase de Tratamento dos Resultados, Inferências e Interpretações) com base em Dodebei e Guimarães (2013: 17) ao discorrer sobre o que compõe a dimensão epistemológica - bases conceituais, históricas, metodológicas, produção científica e diálogos interdisciplinares.
3 Estudos Terminológicos com o objetivo de verificar se os termos dos títulos estão presentes em dois instrumentos terminológicos Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação, pelo fato da predominância dos autores e autoras serem docentes de programas de pós-graduação em Ciência da Informação e o Diccionario de organización del conocimiento: Clasificación, Indización, Terminología por ser específico da temática do evento que está sendo analisado. Aqui não fez uso das palavras-chave, pois no formato dos trabalhos, estas só constam a partir do ano de 2017.
Tennis (2012: 6) distingue dois tipos de AD, a descritiva e instrumental, destacando que "a primeira é usada, e útil, somente em pesquisas básicas, e a última é usada para criar sistemas de organização do conhecimento".
Com base em Santos, Hernandez e Vital (2019) sistematizamos para esse domínio em estudo, a proposta de Tennis (2012) sobre a importância dos dois eixos para a AD áreas de modulação e graus de especialização, com a definição do domínio, escopo e alcance e propósito situados em âmbito descritivo.
Resultados e Discussões
Com foco na AD descritiva, apresentamos a definição do domínio, escopo e alcance e propósito, e em seguida os Estudos de Estrutura na Comunicação Científica; Estudos Epistemológicos e Críticos e Estudos Terminológicos no âmbito da ISKO-Brasil.
Definição do Domínio. A análise realizada refere-se à dimensão epistemológica da Organização do Conhecimento, que está presente em todas as edições já realizadas da ISKO-Brasil a partir de 2012, e está "voltada para e a consolidação de teorias, metodologias, paradigmas, escolas de pensamento" (Guimarães, 2015: 15).
Escopo e Alcance. O corpus possui 66 trabalhos (2012-2019) provenientes da dimensão epistemológica da OC na ISKO-Brasil. Extensão: Todos os trabalhos da dimensão 1. Exclusão: Não houve. Rótulo: Dimensão Epistemológica da ISKO-Brasil. Foco e Especialização: Esta análise tem como foco descrever a quantidade de trabalhos por ano; quem são os autores e os vínculos institucionais presentes, categorizar as temáticas estudas e cotejar os termos representativos dos títulos dos trabalhos com dois instrumentos terminológicos da área de CI e OC.
Propósito. O propósito é de caráter descritivo, visa conhecer e mapear o domínio de trabalhos na dimensão epistemológica da ISKO-Brasil e sua comunidade discursiva.
Estudos de Estrutura na Comunicação Científica
Foram recuperados o total de 66 trabalhos que compõe o corpus da análise. Com base na quantidade de trabalhos por ano, verificamos que o ano de 2017 se destaca em termos quantitativos com um total de 20 trabalhos, seguido de 2013 com um total de 14 trabalhos, conforme Figura 1.
Quanto os autores, há um total de 107, sendo que 71 são autoras e 36 autores. Com análise de frequência, 22 autores/autoras publicam mais de uma vez, sendo: Alves (3); Barros (2); Ortega (2); Martinez-Ávila (4); Sabbag (2); Oliveira (3); Moraes (4); Guimarães (4); Tennis (3); Weiss (2); Bufrem (3); Gracio (3); Fujita (3); Barité (2); Bräscher (3); Silveira (2); Tognoli (3); Dal’ Evedove (3); Santos (4); Corrêa (2); Sales (5) e Moreira (2).
Em relação a modalidade de autoria, tem-se com dois autores (29 trabalhos), três autores ou mais (22 trabalhos) e 1 autor (15 trabalhos).
As vinculações dos autores estão a cargo de 26 instituições (sendo 20 Universidades Brasileiras; 1 Diretoria Regional de Ensino e 5 Universidades Internacionais). Para fins quantitativos, destacam-se oito instituições, a UNESP FFC/Marília (32); UFF (10); UFSC (7); UFSCAR (6); UFPB (6); UFRJ (5); UFPE (5) e USP (5).
Estudos Epistemológicos e Críticos
Para verificar as temáticas estudadas nesse domínio, após as leituras e análises dos trabalhos, foram utilizadas cinco categorias, sendo estas base conceitual; base histórica; base metodológica; diálogos interdisciplinares, e produção científica, conforme classificações descritas por Dodebei e Guimarães (2013: 17) 3.
Nesse sentido, foi constatado que a categoria predominante é a de base conceitual com 23 trabalhos, de temáticas relacionadas ao Tratamento Temático da Informação; aos Sistemas de Organização do Conhecimento; Terminologia; Epistemologia da OC; Análise de Domínio; CI; e as relações entre CI e OC.
A categoria de diálogos interdisciplinares com 15 trabalhos apresenta predominância de temática sobre questões de Organização do Conhecimento na Arquivística, seguida de temas da Terminologia e Filosofia.
A base metodológica compreende 11 trabalhos e os temas referem-se a Ontologia e OC; Ensino em organização e representação do conhecimento Análise documental; Análise Documentária de charge; Autoria e Representação documental; Análise de assunto na representação de fotografias; Representação de fotografias na área de Publicidade; Autopoiesis na consolidação de linguagens de indexação; Linguagens de indexação e a análise de domínio; Linguagens documentárias e o tratamento dos recursos audiovisuais e Enriquecimento semântico por meio do Linked Data.
Referente à produção científica, há 9 trabalhos, e os temas são referentes a Análise Bibliométrica da revista Scire (2006-2010); Análise Bibliométrica sobre Metateoria; Análise Bibliométrica sobre indexação; Análise de Domínio nos anais da ISKO Brasil (2012 e 2013); Análise de Domínio na Produção Científica Brasileira de CI; Tendências temáticas e metodológicas da AKO; Elite e a Frente de Pesquisa nos anais da ISKO-Brasil (2011-2015); Produção científica dos pesquisadores PQ da CI membros da ISKO Brasil; e Perspectivas das pesquisas sobre Folksonomia.
Por último, na base histórica, foram identificados 8 trabalhos, e os temas versam sobre abordagem histórico-científica da CI; Representação do conhecimento Bibliografia de Gesner; Índice Poole e Indexação; Classificações de interesse do leitor; Ordenação de documentos nos manuais francófonos de Biblioteconomia; Fundamentos da catalogação descritiva e influências filosóficas nas classificações bibliográficas de artes.
Estudos Terminológicos
Com a busca dos termos nos títulos, chegamos a 175 termos representativos da dimensão epistemológica. Posteriormente analisaram-se aqueles que são sinônimos ou variações terminológicas exatas, chegando a um total de 98, que foram distribuídos em oito categorias: 1) Configurações de Pesquisas em OC; 2) Teóricos da OC e de outros campos científicos; 3) Eventos; Revistas; Associações e Manuais; 4) Métodos de Pesquisas na CI e na OC ; 5) Suportes da Informação Registrada; 6) Campos e disciplinas científicas; 7) Tratamento Temático da Informação e Sistemas de Organização do Conhecimento; 8) Temas que dialogam com a OC.
A categoria 7 de TTI e SOC, possui um total de 44 termos (Análise documental; Análise documental de obras de ficção; Análise documentária de charge; Assunto; Autoria; Catalogação de fotografias; Clasificación Decimal Dewey (CDD); Classificação; Classificação de documentos de arquivo; Classificação de interesse do leitor; Conceito; Controle de Estoque; Controle de Vocabulário; Descrição; Enriquecimento Semântico; Ensino da Análise de Assunto; Ensino em organização e representação do conhecimento; Especificidade; Exaustividade; Folksonomia; Indexação; Indexação Social; Índice; Informação Musical; Linguagens de indexação; Linguagens documentárias; Linguística; Mapeamento conceitual; Metadados de assunto; Número de chamada; Ontologia; Ordenação de documentos; Organização do conhecimento arquivístico; Organização do Conhecimento; Organização e Representação do Conhecimento; Representação Colaborativa da Informação; Representação da informação; Representação de fotografias; Representação do conhecimento; Representação do conhecimento arquivístico; Representação Documental; Sistemas de organização do conhecimento; Teorias Documentárias, e Usuário).
Por razões quantitativas, elegeu-se a categoria 7 para verificar o nível de compatibilização dos termos no Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (TBCI) e no DOCCIT (Diccionario de organización del conocimiento: Clasificación, Indización, Terminología) para verificar o nível de compatibilização (Figura 3).
O nível de compatibilização se apresenta mediano, uma vez que contempla com exatidão metade dos termos em ambos os instrumentos terminológicos. Um aspecto que se destaca é que o DOCCI possui maior compatibilização, aspecto que pode ser compreendido, pois é um instrumento que se dedica somente as questões de OC. Os termos que não aparecem no dicionário e no tesauro são: controle de estoque; informação musical; organização do conhecimento arquivístico; organização e representação do conhecimento; representação de fotografias; representação do conhecimento arquivístico; representação documental; teorias documentárias.
Considerações Finais
Considerando a importância de uma comunidade científica internacional para o cultivo de reflexões e pesquisas, foi selecionada para ser mapeada a ISKO-Brasil.
Ressaltamos que essa comunidade discursiva ao ter um capítulo no Brasil contribui para a própria construção teórica e metodológica da organização do conhecimento brasileira a partir dos trabalhos apresentados, e posteriormente publicam e disponibilizam os anais de forma gratuita e aberta.
Dessa forma, este trabalhou considerou os anais da ISKO Brasil, em específico da dimensão epistemológica - publicações estas que constituíram o corpus de coleta e de análise do trabalho. Fizemos uso da metodologia de Análise de Conteúdo e de 3 abordagens de AD, 1) Epistemológica para identificar as temáticas das pesquisas; 2) Estrutura da comunicação científica - cujo foco está em descrever ano, autores e instituições; e por fim, 3) Estudos terminológicos.
Foi possível verificar que alguns domínios se destacaram recentemente na ISKO-Brasil, como a Arquivística na Organização do Conhecimento em 2019; além das temáticas de TTI, SOC, Terminologia e Filosofia, nos anos analisados. Entretanto, notamos uma carência de estudos de base histórica, se comparado com as demais categorias.