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Investigaciones geográficas

versão On-line ISSN 2448-7279versão impressa ISSN 0188-4611

Invest. Geog  no.62 Ciudad de México Abr. 2007

 

Notas

 

V Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional sobre Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, 26, 27, 28 e 29 de setembro de 2006

 

Mônica Sampaio Machado*

 

* Departamento de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro

 

O V Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional sobre Espaço e Cultura foi organizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Espaço e Cultura (Nepec) do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Campus Maracanã, nas instalações desta Universidade, no bairro do Maracanã, zona norte da cidade do Rio de Janeiro, entre os dias 26 e 29 de setembro de 2006.1 Coordenado e criado pelos professores Zeny Rosendahl, da UERJ, e Roberto Lobato Corrêa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1993, o Nepec conta também com a participação de dois professores associados João Batista Ferreira de Mello e Aureanice de Mello Corrêa, ambos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com alunos de graduação e pós-graduação.2 Três linhas de investigação orientam o trabalho desenvolvido pelo Núcleo: Espaço e Religião, Espaço e Cultura Popular e Espaço e Simbolismo.

A partir das atividades e dos produtos elaborados em torno desses três eixos, o Nepec passou a organizar, de dois em dois anos, nos meses de outubro, os simpósios nacionais sobre Espaço e Cultura. O primeiro simpósio ocorreu em 1998, o segundo em 2000, o terceiro em 2002 e o quarto em 2004. Em média cada evento contou com cerca de 200 participantes, que assistiram as Mesas Redondas e conferências ordenadas em três dias. Nesses quatro simpósios o geógrafo francês Paul Claval esteve presente, e, no primeiro, em 1998, Denis Cosgrove, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, participou proferindo uma conferência sobre as tendências da Geografia Cultural para o novo milênio. Os trabalhos apresentados passaram a ser publicados no periódico semestral criado em 1995 pelo Núcleo, denominado "Espaço e Cultura", e em livros organizados por Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Corrêa, chamados "Séries Geografia Cultural", publicados pela Editora da UERJ.

Os simpósios foram sempre realizados a partir de Mesas Redondas e conferências, não possuindo sessões de comunicações-livres e resumos ou anais do evento. Nesses quatro primeiros simpósios duas Mesas Redondas foram recorrentes Matrizes e Teoria em Geografia Cultural e Religião e Manifestações do Sagrado. A primeira buscando estabelecer um caminho de reflexão teórica para a Geografia Cultural e a segunda uma abordagem espacial sempre da religiosidade católica. Estiveram presentes apresentando trabalhos em quase todos os eventos geógrafos como Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Paulo César Gomes, Werther Holzer, Gisela Aquino Pires do Rio, Rogério Haesbaert, Ana Maria Daou, dentre outros.

O V Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional sobre Espaço e Cultura não foi diferente. Organizado por Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Corrêa, sob coordenação de Aureanice Mello Corrêa e João Batista Ferreira de Mello, contou também com uma grande equipe de apoio formada por alunos de pós-graduação e graduação da UERJ vinculados ao Nepec. Com exceção de Rogério Haesbaert, esses geógrafos mencionados logo acima estiveram também presentes contribuindo para o debate dos três eixos de investigação desenvolvidos pelo Nepec, orientadores das Mesas e conferências realizadas.

Embora mais extenso do que os quatro primeiros, com onze Mesas organizadas em quatro dias e com cerca de 370 participantes, a estrutura do V Simpósio Nacional e I Internacional sobre Espaço e Cultura seguiu a mesma orientação dos simpósios anteriores.

Os trabalhos foram encaminhados para a coordenação do evento e por ela selecionados e organizados em onze grandes temas que geraram as seguintes Mesas Redondas: 1. Cultura de Massa, Cultura Popular e Resistência; 2. Territórios Indígenas: Cultura e Natureza; 3. Espaço, Literatura e Música; 4. Religião e Manifestações Hierofânicas; 5. Matrizes e Teorias em Geografia Cultural; 6. Pluralidade Religiosa e Identidade; 7. Espaço, Representações e Imagens; 8. Paisagem e Cultura; 9. Natureza, Espaço e Cultura; Dimensões Culturais e Espaço: Perspectivas; Espaço e Festa. Para cada Mesa, em média, foram apresentados quatro trabalhos.

No mesmo formato dos simpósios anteriores, as Mesas foram seqüenciais, promovendo a convergência da atenção dos participantes para um foco temático de cada vez. Com exceção do primeiro dia, com uma palestra de abertura pela manhã e duas Mesas Redondas na parte da tarde, o evento transcorreu com três Mesas por dia, uma pela manhã e duas à tarde. Para o fechamento das atividades diárias, o Simpósio organizou palestras, lançamento de livro e breves apresentações musicais. Conforme indicado, como os eventos não possuem anais, os trabalhos apresentados aqui somente poderão ser apreciadas após publicação prevista para o próximo número do periódico "Espaço e Cultura" e para o próximo lançamento da coleção "Séries Geografia Cultural".

Nas Mesas Redondas, ficaram registradas as presenças de três professores estrangeiros, Maria da Graça Mouga Poças Santos, da Escola Superior de Educação de Leiria, Instituto Politécnico, Porto Moniz, Portugal, que apresentou uma tipologia para o estudo das cidades santuários portuguesas, na Mesa Religião e Manifestações Hierofânicas, João Sarmento, da Universidade do Minho, Portugal, que expôs uma leitura das obras de David Harvey res-saltando nelas o tratamento dado à cultura, que segundo o palestrante é característico ao que denominou de nova Geografia Cultural anglo-saxônica, de expressão nos anos 80 e 90, de caráter nitidamente marxista e crítico às abordagens da Geografia Cultural clássica, da fenomenologia, da hermenêutica e da percepção, abordagens que predominaram nos trabalhos apresentados no Simpósio, e, Daniel Gade, da Universidade de Vermont, EUA, que procurou recuperar a biografia de Carl Sauer e sua postura política e intelectual no meio acadêmico norte-americano, ambos geógrafos compuseram a Mesa Redonda Matrizes e Teorias em Geografia Cultural.3

Na realidade o Simpósio obteve grande expressão e representação da comunidade geográfica nacional, com a participação significativa de professores e alunos de programas de pós-graduação e graduação em Geografia de várias universidades brasileiras. Dentre as universidades mais representadas nas Mesas Redondas destacam-se a Universidade do Estado do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, cada uma com onze representantes, e a Universidade Estadual Paulista (UNESP), com seis. Com quatro representantes aparecem a Universidade do Estado de São Paulo (USP) e a Universidade Federal Fluminense (UFF). Com três estão a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), aparecem cada uma com dois representantes. Por fim, com um representante de cada instituição estão a Universidade Federal de Sergipe (UFS), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Católica de Salvador, a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Estadual do Ceará (UAECE), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É interessante notar que apesar da maior expressão da UERJ e da UFRJ, houve uma seleção de trabalhos que parece ter priorizado a participação de um amplo leque de universidades públicas federais, de diversas partes do país, fora do eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.

Lamentavelmente o geógrafo Paul Claval não pode comparecer para a abertura do evento, como era de costume. Uma ausência muito sentida, uma vez que sua contribuição a Geografia Cultural é internacionalmente reconhecida. Entretanto, o renomado geógrafo brasileiro Roberto Lobato Corrêa assume a abertura do evento com a conferência "Regiões Culturais: um tema fundamental", a quarta conferência em cinco simpósios. Aqui retoma a Geografia saueriana e a Escola de Berkeley como referências fundamentais para o entendimento do Brasil. De fato, Roberto Corrêa procura trazer a Geografia de Carl Sauer para o Brasil explorando o conceito de região cultural como referência para o estudo do território brasileiro. Após essa conferência, fortalecendo a linha Espaço e Cultura Popular, o evento contou com uma exposição denominada "Persona", máscaras populares artesanais, e com a apresentação do Grêmio Recreativo da Escola de Samba Mirim Estrelinha da Mocidade. Na parte da tarde transcorreu a primeira Mesa do evento com a temática da cultura de massa e cultura popular e, em seguida, a segunda, sobre a cultura indígena. À noite, iniciando a abertura cultural, o geógrafo João Baptista Ferreira de Melo, um dos precursores da Geografia Humanística no Brasil, apresentou sua conferência sobre o Rio de Janeiro através da música popular. Uma palestra na qual expõe a história e geografia da cidade do Rio ao som das canções populares que marcaram a vida carioca.

O segundo dia do evento foi iniciado com a Mesa sobre literatura e música com trabalhos sobre Lima Barreto, Machado de Assis entre outros. A primeira Mesa da tarde, Religião e Manifestações Hierofânicas, foi coordenada por Zeny Rosendahl, que também apresentou uma proposta teórica para o estudo das relações entre espaço e religião, fruto da pesquisa que desenvolve desde o início dos anos 90 sobre a religiosidade católica no Brasil, o maior país católico do mundo. Em sua apresentação evidenciou-se uma elaboração teórica e metodológica sobre a temática, assim como o esforço que vem desempenhando recentemente para a articular religião, política e economia. Na Mesa Redonda seguinte, dedicada à discussão teórica sobre a Geografia Cultural, além dos trabalhos dos geógrafos estrangeiros citados, João Sarmento e Daniel Gade, cabe mencionar a apresentação de Paulo César Gomes, da UFRJ, sobre imagens e Geografia. Sua grande preocupação centrou-se em dar uma contribuição ao tratamento das imagens pela Geografia, o que fez explorando de maneira inovadora a concepção de cenários geográficos. Finalizando o dia, Zeny Rosendahl e Roberto Lobato Corrêa lançaram o livro "Cultura, Espaço e Urbano", uma coletânea de textos sobre a temática, publicados pela Ed UERJ.

O terceiro dia do evento contou, na parte da manhã, com a Mesa sobre pluralidade religiosa na qual foram apresentados estudos sobre a cultura judaica, sobre os cultos africanos brasileiros, e sobre a fé Bahá'í. Na parte da tarde, na primeira Mesa, Espaço, Representação e Imagens, foram apresentados trabalhos sobre as representações espaciais através do cinema, da pintura, da fotografia e dos jornais brasileiros. Na última Mesa deste dia, a discussão orbitou sobre temática paisagem e cultura. Aqui foram apresentados estudos sobre as construções simbólicas da paisagem, culturais e políticas, do sertanejo e do carioca. Foram também apresentadas reflexões teóricas para o estudo da paisagem a partir o método fenomenológico. Encerrando as atividades, os participantes do evento assistiram a apresentação do Coral Afro Iyún Asé Orin. Coral de Cânticos de Axé, na língua iorubá.

O quarto dia do Simpósio teve início com a Mesa Redondo Natureza, Espaço e Cultura. A primeira apresentação abordou a concepção de natureza e suas dimensões simbólicas concebidas pelas comunidades pesqueiras nordestinas e as outras três trataram, de forma diferenciada, da Amazônia. Nesses três trabalhos a temática da representação da Amazônia por seus diversos habitantes foi recorrente. O primeiro trabalho versou sobre as representações da Amazônia pela população das comunidades ribeirinhas das ilhas de Abaetetuba no Pará, o segundo apresentou a importância e o papel das águas e das formas dos sistemas naturais na cidade de Manaus e a última buscou identificar a concepção de ética ambiental em cinco áreas amazonenses com características bem distintas. A primeira Mesa da parte da tarde, Dimensões Culturais, Espaços: Perspectivas, reuniu quatro trabalhos com temáticas diversas. Foram apresentados estudos sobre: a) o cotidiano feminino; b) os significados do esporte, essencialmente do futebol, no urbano; c) a identidade e representação geográfica portuguesa no Rio; d) o projeto político e a imagem da cidade de Niterói a partir dos anos 80. Nesta Mesa, uma calorosa discussão sobre a dominação social masculina envolveu e dividiu o auditório. Discussão que pôde ser evidenciada em virtude da composição e das características deste evento, que tem incentivado e conjugado temas pouco usuais na Geografia. A última Mesa Redonda do Simpósio, Espaço e Festa, trouxe estudos sobre costumes e tradições populares de diversas comunidades de cidades pequenas e médias e espaços rurais brasileiros. Foram apresentados trabalhos sobre as festas religiosas das comunidades ribeirinhas de Porto Velho, sobre a reinvenção das tradições nos espaços rurais dos cerrados de Minas Gerais, sobre as festas da Irmandade da Boa Morte, Bahia, e sobre as festas na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte.

Encerrando o evento, o renomado geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro proferiu uma palestra buscando articular arte e geografia. Recuperando a história da retratação de paisagens na arte, Carlos Augusto Monteiro focalizou sua apresentação nas pinturas em aquarela do artista paulista, do século XIX, Miguel Dutra (1810-1875), veiculadas no livro "Miguel Dutra o poliédrico artista paulista", publicado em 1931 por Pietro Maria Bastos. Sua proposta central foi destacar o papel das paisagens e das imagens na investigação geográfica e estabelecer a expressão artística como uma importante fonte de pesquisa para a Geografia. Ao terminar sua palestra, Carlos Augusto Monteiro foi homenageado pelo Nepec, em função de sua significativa contribuição a Geografia Brasileira. Como fechamento do Simpósio os professores Zeny Rosendahl, Roberto Lobato Corrêa, João Batista Ferreira de Mello e Aureanice de Mello Corrêa se pronunciaram e recuperaram a história e a contribuição dos simpósios realizados e dos trabalhos desenvolvidos pelo Nepec. Nesse sentido, deve ser reconhecido o esforço que este Núcleo tem realizado no fomento e no desenvolvimento da Geografia Cultural no Brasil. Esforço claramente percebido através da organização e da qualidade deste Simpósio. Na manhã do dia seguinte, o professor João Batista Ferreira de Mello coordenou uma excursão geográfica ao centro do Rio de Janeiro através de um roteiro cultural. Nele foram exploradas a gênese, a expansão e a metamorfose da cidade carioca, assim como as simbologias dos seus logradouros, igrejas, centros culturais e museus.

Basta ainda uma última informação. Conforme a periodicidade da realização desses eventos e de acordo com a previsão da comissão organizadora do Simpósio, o próximo Simpósio Espaço e Cultura irá acontecer daqui a dois anos, em outubro de 2008, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro sob coordenação do Nepec.

 

NOTAS

1 Esta resenha contou com a colaboração dos alunos Adriana de Melo Simas (mestranda em Geografia UERJ) e Alicia Vianna da Silva (bolsista iniciação científica FAPERJ), que acompanharam o Simpósio e registraram as poucas palestras em que não pude estar presente.

2 No V Simpósio Nacional e I Simpósio Internacional Espaço e Cultura foram anunciadas mudanças na composição dos professores associados ao Nepec, havendo uma ampliação desta lista. Para acompanhar as atividades do Nepec consultar http://nepec.com.br

3 Álvaro López Gallero, da Universidad de la República, Uruguay, não pode comparecer ao evento.

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